NOSSO ESPAÇO

Um lugar para somar, dividir e multiplicar, nunca subtrair.

Um causo de professor

Esse “causo” é real e vou citar as pessoas envolvidas com nomes fictícios.

Em 2018 fui convidada por uma profissional da área da educação na Colômbia para realizar três workshops sobre a Pedagogia das Cores, em Bogotá, Cali e Cartagena. Eu fiquei muito feliz, pois aqui no Brasil a metodologia estava engatinhando e já havia recebido contatos de pessoas de outros países, mas na Colômbia vingou. A viagem foi tranquila, era noite quando cheguei no aeroporto, Made já estava preocupada com minha demora, causado pela alfândega. Ela me auxiliou no transporte das duas malas de 23 quilos cada, que continham todos os materiais destinados aos workshops. No estacionamento, encontramos Jose, marido de Made.  Após a chegada ao hotel, ambos me acompanharam até o quarto. Eles realizaram uma vistoria completa no ambiente, inclusive verificando embaixo da cama. Recebi orientação de permanecer no quarto e aguardar um novo contato deles no dia seguinte, sem sair do hotel.   No dia seguinte Made me ligou avisando que havia um carro branco me esperando, me informou a placa e garantiu que era seguro. O motorista foi gentil e me deixou em um restaurante onde encontrei Made para almoçarmos juntas. Seguimos pela cidade conhecendo alguns pontos turísticos e o museu. No outro dia,  aconteceria o primeiro evento para professoras de um colégio renomado de Bogotá. Aqui começa a minha aventura. Chegamos à escola, o segurança nos indicou a coordenadora pedagógica da escola que conversava com alguém na porta o teatro da escola. Ela nos recebeu, mostrou o teatro, e falava muito bem português. Disse que havia morado no Brasil muito tempo e que conhecia muito sobre o bairro que eu morava, o shopping etc. Enquanto conversávamos, a diretora foi ao nosso encontro e não deu muita atenção para a coordenadora. De repente entram alguns homens muito bem-vestidos com crachás de uma grande Universidade colombiana. Made ficou muito empolgada pela presença de pessoas que se diziam pesquisadores e que estavam interessados na metodologia Pedagogia das Cores. Made e a diretora foram até a secretária e eu fiquei arrumando as coisas para a apresentação. Em determinado momento a coordenadora apareceu e disse que a diretora estava me chamando, e pediu para que um dos membros da universidade me levasse até lá. Meu notebook, celular, pasta e bolsa com documentos ficaram no teatro, ela disse que cuidaria. Segui com o rapaz, que me levou pela rampa subindo vários andares, do nada ele me aponta uma sala e quando me aproximei da sala, olhei para trás, ele havia sumido. O colégio era enorme, fiquei perdida, não encontrava ninguém. Finalmente encontrei uma servente que não entendeu meu espanhol nada fluente. Continuei andando e encontrei outro funcionário que me levou até a secretaria. Made seguiu comigo de volta ao teatro onde todo mundo da universidade havia sumido, inclusive a coordenadora. Mas não foi só isso que sumiu, meu notebook e meu celular também. Felizmente não levaram meu passaporte, dinheiro ou cartões. Fiquei transtornada. Peguei o celular de Made emprestado para ligar para meu marido, o qual pediu que eu voltasse imediatamente no próximo voo. Não aceitei, pois tinha uma missão e iria cumpri-la. Eu tinha um pen com toda a apresentação e iria me virar. Made quis chamar a impressa, mas a diretora implorou que ela não fizesse isso, pois ia colocar em risco o nome da escola e os pais não achariam mais a escola segura para seus filhos. Até esse momento apenas parecia tratar-se de um furto. Porém, no dia seguinte ficamos sabendo que havia sido uma tentativa de sequestro por parte de uma organização revolucionária colombiana. Então entendemos que o rapaz que ia me levar para a secretaria devia ser um infiltrado que em vez de me levar para algum lugar combinado com os restos dos comparsas, me deixou perdida na escola para eu ganhar tempo. Apesar de tudo isso, no dia seguinte seguimos para Cartagena e quando estávamos no taxi a caminho do hotel, no rádio veio a notícia da tentativa de sequestro da congressista brasileira. Um dos seguranças da escola vendeu a notícia. Enfim, o workshop aconteceu em Cartagena com sucesso. Depois, viajamos para Cali, e na escola em que ia acontecer o workshop havia vários seguranças, pois a notícia se espalhou rapidamente. Mas tudo correu muito bem no workshop. No dia em que eu vinha embora, Made precisava fazer uma parada antes de me levar ao aeroporto porque tinha uma reunião com líderes políticos. Entramos em um Mcdonalds, e para minha surpresa conheci vários políticos, inclusive o ex-presidente da Colômbia, a reunião era para falar das eleições. Essa viagem vai ficar para sempre em minha memória, pela beleza do país e pelas coisas bizarras que aconteceram.

Solange Depera Gelles

Um causo de professor